Tecido, corpo e sexualidade

Nosso corpo é uma máquina potente, instrumento de nossas realizações, através dele carregamos a energia do universo e temos uma inigualável capacidade de transformar a si a ao redor. Para relacionar: corpo, sexualidade e a pratica do tecido precisamos de algumas noções sobre esses pontos. 
Nosso organismo funciona através do que chamamos metabolismo, que nada mais é que a assimilação de energia útil e a dispersão de energia não utilizada, são os processos químicos que fazem a manutenção do nosso corpo. Nosso processo metabólico, assim como nosso corpo é único e mutável, pois a genética, a idade, o sexo,  a qualidade de vida e os hábitos alimentares são fatores determinantes para o  seu modo de funcionamento. Dito tudo isso, vamos a partir deste momento entender tudo como energia, todo processo corporal, seja qual for, é troca de energia; nosso corpo consome, gera, armazena e dispersa energia por meio do nosso metabolismo.
O sexo é a nossa energia vital, é através dele que geramos vida, é o nosso potencial criador e está no centro de nossas vidas; é o segundo chakra localizado no quadril, na nossa região genital. Sexualidade não pode ser resumida a relação sexual, e sim relacionada principalmente ao nosso ímpeto de vida, é onde se concentra o desejo, impulso de vida humana. 
Para muitas pessoas o acesso a essa energia é limitado pela falta de conhecimento do corpo. Essa ignorância a respeito do corpo nos foi imposta por uma cultura egocêntrica focada na manutenção da não consciência de nós mesmos. O individualismo, embora pareça nós fornecer pessoas com mais conhecimento em si mesmas, faz o serviço contrário, induz o ser humano a temer tudo que está fora dele e assim perder todo tempo se defendendo e atacando em vez de despertar em comunhão. Somos incentivados a tolher nossos desejos, a vigiar e condenar o desejo dos outros, e o nosso corpo fica entre a negação absoluta e o prazer violento na tentativa de libertação. Mesmo as pessoas mais livres das imposições de padrões de libido e formas corporais obrigatórias, ainda sim, pouco mergulham no real potencial desse nosso aspecto vital
O sexo está, como tudo no universo, relacionado ao amor. Uma passagem muito interessante no Kama Sutra que diz que "todos os erros do mundo surgem da crença do não-amor" e "... quando o desejo segue o fluxo do amor beneficia a vida como um todo e quando você promove o amor, em si e nos outros, você tornou-se um amante". 
Lindo né? mas agora talvez eu precise lembrar um pouco sobre o amor de que eu estou falando; esse sentimento muito falado e pouco entendido é nada mais que o encerramento das polaridades, a reintegração do estado absoluto de unidade, amor é quando os pássaros cantam para que as árvores deem frutos; o amor é estar em uno com Deus, é enxergar o Deus em si e no outro (não só o outro que você escolher, mas todos os outros), assim como em toda natureza, isso é o significado do amor. Quando falo em Deus não estou utilizando o conceito das religiões egocêntricas, entenda Deus em qualquer citação minha como energia criadora inicial, ponto de partida; força que inicia, alimenta e mantém a existência de tudo, poder criador inegável, o qual você pode denominar como quiser. Já cheguei em Deus, como eu sou prolixa, voltei.
Partindo dessa ínfima definição de sexualidade vamos ao ato em si, o SEXO, a transa, a geração de prazer no corpo que pode acontecer com um, dois, três, ... seres. O sexo sozinho promove conhecimento do corpo e quando feito com mais de um ser promove conexão, quando gozamos juntos sentimos o alívio da reintegração, o gozo nos universaliza.
 O orgasmo é o ápice do prazer sexual, efervescência de sentimentos, excitação incontrolável do espírito, onde conseguimos a transcendência do pensamento, pois não é possível pensar durante um orgasmo, e isso tem muita importância no bem estar que ele causa. Na minha opinião o orgasmo é uma passadinha rápida no estado de nirvana, rs.
Agora que vocês já conhecem o corpo com seu metabolismo, o sexo, o amor e o orgasmo vou finalmente chegar ao objetivo desse texto, relacionando esses conceitos iniciais com a pratica do tecido.
Para quem não conhece a pratica, o tecido é uma modalidade de acrobacia aérea onde o corpo dança pendurado num pano por meio de técnicas específicas onde são possíveis movimentos estáticos, ritmados e quedas. Esses movimentos são uma junção de coordenação e amarrações definidas que formam um jogo de entra e sai, enrosca e desenrosca, aperta e solta, monta, encaixa, dança, equilibra, vertigem e queda. Familiar? Rsrs. 
Esse jogo criativo, prazeroso e até doloroso, possibilita o acesso à energia sexual. Quando um praticante descobre um movimento novo ele sente o desejo de realização e assim como no ato sexual, busca no corpo maneiras de concretizar esse desejo, que em 100% das vezes ocorre através do despertar da consciência corporal, e da unidade com o aparelho, no caso o a malha. Igual né? 
No tecido, livre de julgamentos, traumas, abusos e sofrimentos, que embora estejam presentes e expostos na ação da acrobacia, não se relacionam diretamente com a pratica, portanto o corpo se ver liberto da relação direta com a angustia e mesmo com a presença da dor física fica aberto para a experiência do prazer. Além dessa experiência, o risco contido no exercício faz com que o praticante esteja quase sempre presente, mente e corpo se alinham para executar a ação. O encontro do corpo e mente despertam um transe que no tecido ocorre sempre que se realiza um movimento com algum domínio, harmonizando seu eu e proporcionando uma descarga de prazer que percorre o corpo como num orgasmo, uma onda intensa de prazer pela descoberta corporal, uma universalização, promessa de unidade restaurada. Êxtase; pergunta pra alguém que faz uma queda, ou executa um movimento com leveza, ou consegue, mesmo que ainda imperfeito, um movimento novo; êxtase. O êxtase é um ato de amor que nos reconcilia com a totalidade do mundo, estado de regozijo. 
Para além da emoção o tecido também trabalha o toque, o contato, prende, solta, aperta, pressiona lugares do corpo, às vezes pouco tocados, muitas vezes pouco conhecidos, musculatura e pele, onde se acumulam nossas repressões sexuais, bloqueios energéticos, enrijecimentos, dores; no tecido os nossos corpos são massageados aleatoriamente ou não, provocando uma descarga de prazer e cura. Bem estar. 
O tecido proporciona descoberta do corpo, alongamento, conhecimento de novas sensações corporais possíveis, um movimento análogo ao ato sexual pleno. Com isso, torna também o corpo mais apto a se livrar das travações, a desenvolver sua potência sexual, se soltar. 
Ser cada vez mais lúcido na descoberta de casa parte, osso, músculo, pele. No tecido inúmeros são os movimentos relacionados ao quadril, neles ocorre a descoberta, abertura e liberação de energia do chakra sexual. 
Sentir prazer em si mesmo é se sentir vivo, é plenitude do espírito, é energia distribuída com o universo, é gratidão. 
Encerro com outra frase linda do Kama Sutra:
"O prazer é o sorriso que o amor concede a mortalidade".

 Camila Gatis

 31/01/2017.


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